terça-feira, 31 de outubro de 2017

Que boa herança recebemos da Reforma?




Hoje comemoramos 500 anos da Reforma Protestante. No século XVI, Martinho Lutero lançou seu apelo à reforma da Igreja. Ele afixou à porta da igreja de Witenberg 95 teses, cujo teor resume-se nos cinco pilares da reforma: Sola Gratia (a salvação é somente pela graça), Sola Scriptura (a crença cristã é baseada somente nas Escrituras, não nas tradições estabelecidas pela Igreja); Sola Fide (os cristãos são justificados - trazidos a uma relação correta com Deus - pela sua fé, não as suas boas obras), Sola Christus (Cristo é suficiente no processo de salvação, e homem algum pode ser salvo por si mesmo), Soli Deo Gloria (a glória é dada somente a Deus). Ele ensinou também sobre o sacerdócio de todos os crentes (todo cristão - do povo ou do clero - tem uma vocação à santidade e ao ministério).

Não podemos passar essa data sem que falemos dos benefícios que recebemos, como igreja, dessa tremenda mudança no curso da história da igreja cristã. Aqui estão alguns pontos que quero destacar, dando ênfase ao que toca a vida da mulher. Ela também faz parte da Reforma. Vejamos:


1. VALORIZAÇÃO DAS ESCRITURAS. A leitura da Bíblia deve ser realizada a partir de Jesus Cristo. Essa compreensão é fundamental para a atuação das mulheres. Jesus minou os abusos da cultura judaica, tratando as mulheres com grande respeito e dignidade. Vejamos: 

Ele falava às mulheres (Jo. 4.1-27);
Ensinava-as (Lc 10.38-42);
Discutia verdades teológicas (Jo. 11.21-27 e os citados acima);
Viajava com elas (Lc 8.1-3);
Aceitava o suporte financeiro e ajuda ministerial delas (Mc 15.40, 41 / Lc 8.3);
Usava-as como exemplo em seus ensinos (Mc 12.41-44)

Ele desafiou, desta forma, a cultura que menosprezava as mulheres, dando-lhes dignidade. A Reforma, por seguir os padrões das Escrituras, também valorizou as mulheres em suas atividades, abolindo todo preconceito que havia contra as mulheres, incentivando-as a estudar, a casarem-se e a ensinarem seus filhos.


2. MINISTÉRIO
Com a Reforma, a convicção de que ministério é um chamado de Deus para responder às necessidades da Igreja em todos os tempos, valorizou todos os serviços prestados a Deus, mantendo as distinções de papeis em determinados ofícios ministeriais. Dentro da concepção protestante, especialmente o sacerdócio geral dos crentes e a pregação do Evangelho assumem relevância. Portanto, com a Reforma, houve uma correta compreensão dos ministérios na igreja.

3. TRABALHO FEMININO.
Lutero enfatizou a ética do trabalho (Berufsethik), sustentando que todo trabalho é digno e tem igual valor. Não somente o trabalho espiritual agrada a Deus, mas todos os trabalhos são importantes; isso engloba, também, o trabalho cotidiano e normal das mulheres. Um texto muito importante de Lutero é o livro “Da Liberdade Cristã” (20 de novembro de 1520). As teses principais desse escrito dizem que “o cristão é um senhor libérrimo sobre tudo, a ninguém sujeito” e que “o cristão é um servo oficiosíssimo de tudo, a todos sujeito”. A primeira tese é válida “na fé”; a segunda, “no amor”. Esse tratado também encorajou as mulheres a assumir a sua própria forma de viver a vida, e assim muitas deixaram de viver enclausuradas no convento. Com este ensino, foi que as sociedades floresceram e nações prosperaram.

Lutero prezava a mulher como educadora dos filhos, pois considerava esta tarefa “a obra mais nobre e preciosa do mundo” (1). Ele diz que pai e mãe são responsáveis pela educação.

Isso foi especialmente importante naquela época, pois havia duas classes de mulher: a mulher celibatária, cujo status religioso era considerado o mais elevado e perfeito, e a mulher casada, considerada um ser de segunda classe. Numa procissão, por exemplo, as mulheres formavam o último grupo, e, durante certos períodos, como da menstruação e da gravidez, não podiam participar da ceia da comunhão, nem frequentar a igreja. A Reforma mudou esses conceitos.

4. INCENTIVO AO ESTUDO
Além de serem incentivadas e valorizadas nos seus trabalhos domésticos, as mulheres foram estimuladas a aprender a ler, para lerem a Bíblia. Encontramos registros na história de inúmeras mulheres reformadas que se tornaram escritoras, teólogas, professoras de línguas antigas, regentes, intelectuais, compositoras. Visto que a educação era importante para meninos e meninas, Lutero empenhou-se pela criação de escolas para ambos os sexos.

5. SUBMISSÃO FEMININA
Lutero afirmava que a mulher era subordinada ao homem, tendo como tarefa principal gerar e criar filhos. Seu meio de influência ficaria restrito à sua casa, e não caberia a ela intrometer-se em questões políticas ou eclesiásticas. Claro, ele tinha por base a doutrina bíblica paulina da subordinação da mulher, e a ordem da criação (Ef 5.24 / Gn 2.7 / 1 Tm 2.13).

Isso, contudo, não quer dizer, absolutamente, que Lutero e as ideias da Reforma, menosprezavam a mulher. Ele escreveu cartas à sua esposa Katharina, e nelas ele também pedia sua opinião sobre questões político-eclesiásticas. Não obstante ser de opinião que uma mulher não é capaz de exercer liderança política ou eclesiástica, ele escreveu a algumas mulheres regentes, como Maria da Hungria e Catarina da Saxônia, que continuassem a promover a Reforma em seu território.

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O verdadeiro cristianismo, então, valoriza a mulher, ainda que não lhe atribua um status semelhante ao do homem, como erroneamente defendem os feministas evangélicos.

Com isso concluímos que onde quer que o Evangelho chegue, haverá uma valorização dos mais frágeis, como mulheres, crianças, idosos, debilitados, órfãos e viúvas. A Reforma trouxe o olhar das pessoas para a leitura da Bíblia sob a perspectiva do Evangelho, ou seja, Jesus é o modelo de tratamento que devemos dispensar a toda pessoa. Começando por Cristo, os demais apóstolos valorizaram o papel da mulher tanto na família como na igreja. 

Que possamos ser como Lutero em nosso tempo: combatendo tudo o que se levante contra a Palavra de Deus.

Soli Deo Gloria!

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Judite Alves

domingo, 22 de outubro de 2017

Cem anos das misericórdias do Senhor sobre a vida de uma mulher!

Ontem vivemos um momento único em nossa história: a abertura dos cem anos de nossa igreja, uma comemoração das primeiras sementes de fé plantadas no nosso estado. A pequena semente do Evangelho cresceu tornando-se uma grande árvore, oferecendo abrigo para todos que nela vêm se refugiar.

E lá, eu descobri algo que aqueceu o meu coração: nossa igreja nasceu das misericórdias do Senhor sobre uma mãe perdoada! A irmã Rute, filha do pastor Joel e Signe Carlson, nos disse que sua avó materna recebera de Deus um chamado missionário, mas não foi obediente à visão celestial, antes, casou-se com um homem que tinha propósitos diferentes daqueles que Deus havia-lhe preparado. Mas nos últimos dias de vida, ela pediu graça ao Senhor que lhe concedesse que pelo menos um de seus filhos dedicasse sua vida ao Reino de Deus. Deus não somente atendeu àquele clamor, como fez com que TODOS os seus filhos fossem missionários. Além de sua mãe, a irmã Signe, seus tios e uma tia dedicaram suas vidas a Deus, a ponto de um deles, sua tia, ser sacrificada na África, por amor ao Evangelho.

Eu pensei do meu lugar: que linda a misericórdia de Deus! Uma mãe aflita por não ter cumprido o chamado de sua vida roga ao Pai para que lhe perdoe e conceda-lhe a misericórdia de ter um de seus filhos envolvidos naquilo que havia rejeitado. Essa é a mensagem que lemos nas Escrituras, livro após livro: em Adão, Deus envia Sete; em Noé, um dilúvio que salva a ele e à sua família; em Abraão Deus envia Isaque, em Jacó, a bênção de ter José. Com a nação de Israel, profeta após profeta traz uma mensagem de tristeza pelo desvio e desobediência do Seu povo, mas também suspiros de um Pai amoroso, pronto para perdoa-los.

"Como posso desistir de você, Efraim? Como posso entregar você nas mãos de outros, Israel? 
...O meu coração está enternecido, despertou-se toda a minha compaixão. Não executarei a minha ira impetuosa, não tornarei a destruir Efraim. Pois sou Deus, e não homem, o Santo no meio de vocês. Não virei com ira" (Os. 11.8-9)

Deus nos ama, irmãos! Somos prova viva disso! De uma mulher quebrantada Deus levanta um povo forte aqui em Pernambuco. Esse fato foi a concepção da nossa Igreja. Hoje somos crescidos, afinal, temos 100 anos, e ainda hoje devemos refletir sobre a bondade do Senhor em nossa concepção e infância. Ele cuidou de nós, sofreu conosco, quando os nossos pais, rejeitados e ridicularizados, pregavam o Evangelho nas ruas do nosso Recife. Deus cuidou de nós como uma mãe que cuida dos seus filhos. Quando em provação e sentimento de abandono, Deus se revelou e pegou em nossos braços, como uma Pai faz com seu filho pequeno.

No fim de uma vida, uma luz de esperança se acende: vem de uma mãe, que chora sobre seus filhos. São as aljavas do Senhor que cumpririam aquele chamado rejeitado. Na nuvem mais escura, brilhou o arco da aliança de Deus. A uma mulher contrita e arrependida, Deus mostra seu favor com tanta ternura!

Como te deixaria, ó Pernambuco? Exclama o Senhor hoje. O coração do Senhor está enternecido, cheio de compaixão. Para que nos livrasse da ira, Ele não poupou o Seu próprio Filho. Essa é a paciência do nosso Deus! As ternas misericórdias do Senhor, cujos pensamentos e caminhos que nutre a respeito dos pecadores que a Ele retornam, estão tão elevadas quanto o oriente dista do ocidente. Deus sabe perdoar e nós somos frutos do perdão de Deus. Ele é fiel para te perdoar!

Nosso Deus é infinitamente justo e infinitamente misericordioso. Sua bondade mostra o quanto carecemos dele para corrigir nossas desobediências e desvios. É a bondade dEle sobre nós que nos faz triunfar. Não nos esqueçamos, irmãos, das misericórdias do Senhor. Ele é o que perdoou as iniqüidades, que sarou todas as enfermidades, que redimiu nossa vida da perdição e nos coroou de benignidade e de misericórdia. Ele não castiga para sempre nem nos trata segundo os nossos pecados, nem nos recompensa segundo as nossas iniqüidades. Ele, como fez na vida daquela mulher, quer revelar mais uma vez o Seu amor por nós, Pernambuco.

Arrepende-te! Volte para o Senhor! A misericórdia do Senhor é desde a eternidade e até a eternidade sobre aqueles que o temem, e a sua justiça sobre os filhos dos filhos.

Bendiga ao Senhor, todos os santos de Deus! 

Bendize, ó minha alma, ao Senhor!


Judite Alves

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Aqui estão as fotos desse inesquecível dia:




















Aqui estão os vídeos deste grande dia:


sábado, 14 de outubro de 2017

Lições da vida de Katharina von Bora


Katharina von Bora (1499-1552) foi a esposa do maior exponente da Reforma protestante, Martinho Lutero, e era exemplo de engajamento pela causa do Evangelho. Devido à sua personalidade forte e suas qualidades administrativas, Lutero a chamava, por vezes, de “meu senhor Käthe”, ainda que ela o chamava respeitosamente de “senhor Doutor”.

Catarina teve que ser forte, considerando que teve seis filhos, dos quais dois não alcançaram a idade adulta. Mas além dos próprios filhos, o casal chegou a criar mais oito filhos de parentes próximos. No grande convento, em que a família morava, sempre havia estudantes de teologia que alugavam quartos. Também eram acolhidas pessoas idosas e doentes, além de muitos visitantes dos mais diversos lugares que vinham a Wittenberg, para conversar com o Reformador. Lutero prezava a forma como Katharina gerenciava a casa, mas ele também a amava como educadora dos filhos e, também, como esposa que o animava em momentos de dificuldade e depressão. Katharina foi a primeira “esposa de Pastor” luterana (Pfarrfrau – Frau Pfarrer), a dona da “casa pastoral evangélica” e o modelo para as próximas gerações.


Katharina foi uma das várias freiras que logo aceitaram as idéias protestantes e depois fugiram do convento. Martinho Lutero, que encontrou maridos para algumas dessas ex-freiras, tentou várias vezes encontrar um marido para Katharina antes de se casar com ela. Eles foram casados ​​por 21 anos. Kathie morava numa casa que era, na verdade, seu antigo mosteiro. Ela cuidava de um grande jardim, pescava, cultivava e cuidava do gado.

Há muitas qualidades que aprendi com a vida dessa grande mulher de Deus. Se lermos Provérbios 31.10-31, veremos que Katharina von Bora tinha a maioria das características citadas ali:

  • Era mulher virtuosa; 
  • Tinha muito valor (um caráter invejável); 
  • Era perseverante; 
  • Cuidava dos menos favorecidos; 
  • Cuidava bem dos filhos e da sua casa; 
  • Era companheira fiel; 
  • Paciente; 
  • Trabalhadora; 
  • Humilde; 
  • Educava os filhos; 
  • Fazia sempre o bem; 
  • Era uma estudiosa da Bíblia 

Katharina descobriu a grandeza do seu papel no Reino de Deus, e assim, o domínio de Jesus começou a avançar neste mundo.

Na biografia de Martin Luther, Here I Stand, o estudioso Roland Bainton escreve: “O Lutero, que se casou para testemunhar a sua fé, na verdade fundou um lar e fez mais do que qualquer outra pessoa para determinar o tom das relações domésticas alemãs para os próximos quatro séculos”. Bainton também comenta que os primeiros escritos de Lutero sobre o casamento criam a impressão de que "o único objeto do casamento é servir como remédio para o pecado”. Mas depois de seu próprio casamento, sua ênfase mudou, e ele começou a retratar o casamento como uma "escola de caráter". Nesse sentido, o casamento tira de cena o mosteiro, considerado pela igreja Católica como o campo de treinamento da virtude e o caminho mais seguro para o céu. Lutero dizia a respeito do casamento: “É claro que o cristão deve amar a sua esposa. Ele é obrigado a amar o próximo como a si mesmo. Sua esposa é seu vizinho mais próximo. Portanto, ela deve ser sua amiga mais querida”.

Após um ano de casado, Lutero fala sobre sua “Kathe” dizendo: “minha Kathe é tudo, tão dedicada e encantadora, que não trocaria minha pobreza pelas maiores riquezas do mundo”. E mais tarde declarou: “não há na terra um laço tão doce, nem uma separação mais amarga como a que ocorre no bom casamento”.

Lutero faleceu em 1546, Katharina ainda viveu mais seis anos e viu seus filhos atingirem a idade adulta, alcançando posição de influencia na sociedade, exceto os que morreram crianças. O mais velho (Hans) estudou direito e tornou-se conselheiro da corte. O segundo (Martin) estudou Teologia, o terceiro (Paul) tornou-se um médico famoso, e a terceira filha (Margareth), pois as outras duas faleceram, casou-se com um rico prussiano. Segundo um historiador, os descendentes de Lutero que ainda vivem, descendem de sua filha Margareth, dentre eles está o ex- presidente da Alemanha, Paul Von Hindenburg.

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É emocionante resgatarmos histórias como essas! Porque vidas se deram ao Senhor, hoje podemos desfrutar do resultado de tamanha entrega.

Finalizo contando o ultimo episódio da vida de Lutero, falando em relação à Katharina von Bora, extraído do livro “Grandes Mulheres da Reforma”:
“Minha querida Kate, me mantém jovem, e em boa forma também… Sem ela, eu ficaria totalmente perdido. Ela aceita de bom grado minhas viagens, e quando volto está sempre me esperando com alegria. Cuida de mim nas minhas depressões e suporta os meus acessos de cólera. Ela me ajuda em meu trabalho, e acima de tudo ama a Cristo. Depois Dele, ela é o maior presente que Deus já me deu nesta vida. Se algum dia vierem escrever a história de tudo o tem acontecido (A Reforma), espero que o nome dela apareça junto ao meu. Eu oro por isso…”

Ao tomar conhecimento dessa declaração Katharina respondeu: "Tudo o que tenho feito se resume a simplesmente duas coisas: ser esposa e mãe, e tenho certeza que sou uma das mães mais felizes da Alemanha”.

A vida de Katharina me lembra o que aconteceu com Jesus na casa de Lázaro: o nardo puro foi derramado sobre o Senhor. Katharina deu o seu melhor ao Senhor, por isso, onde a história da Reforma for citada, será dito seu nome, para sua memória.

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Judite Alves

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